Cabo Verde

Setembro é um mês de celebrações cá em casa.

Quis o destino que no mesmo mês em que celebro o que considerava ser passo mais assustador que alguma vez dei – ir para Cabo Verde, sozinha – celebre outro passo que, mesmo quando me queria convencer que conseguiria fazê-lo, tinha dúvidas que alguma vez o conseguisse de facto dar – ter o parto que sempre sonhei e desse momento brotar o fruto mais bonito que alguma vez colhi.

Faz (amanhã) 9 anos. Há 9 anos, eu estava de malas feitas, com um nó imenso na barriga, a preparar-me para um ano de descobertas. “Vai ser só um ano, passa rápido” dizia eu a alguns. Dizia-o para mim mesma, pensando que assim se tornaria menos assustador; dizia-o a quem eu achava querer para sempre, para atenuar a dor da despedida; dizia-o para a família, para tornar menos pesado o derradeiro momento de abrir as asas e voar.

9 anos depois, de volta ao país a que sempre chamei casa, penso em tudo aquilo que eu criei por ter dado esse passo.

Foram muitas horas de choro provocadas pela distância. Muitas noites mal dormidas, das saudades que sentia. Muitas dores de cabeça por não saber o que fazer de mim e dos que me rodeavam naquele ano.

Foram também muitas horas de riso profundo. Muitas manhãs a acordar de sorriso estampado por estar a viver um sonho de há muito. Foram semanas de coração aos saltos, borboletas na barriga e tantas dúvidas existenciais…

Os anos que se seguiram permitiram-me consolidar as minhas raízes. Tanto lá, como cá. As asas abriram-se e as raízes cresceram. E criaram uma árvore que está agora, 9 anos depois, mais forte do que nunca. Uma árvore que me (nos) orgulho de ter cuidado. De cuidar todos os dias, mesmo quando a tempestade é tão grande que parece que vai deitar tudo abaixo.

Há 9 anos dei um passo. Gigante, para mim, na altura. Megalómano, agora que olho para trás e vejo o que daí nasceu.

Não mudaria nada – nem a decisão, nem o que deixei cá para trás, nem o que trouxe de lá. A vida mudou para sempre no momento em que enviei o primeiro email e tudo o resto será para sempre a minha (nossa) história.

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